O inverno se aproxima e, em várias regiões do país, traz baixas temperaturas. Como estamos em um país tropical, é natural que as nossas construções estejam mais adaptadas ao clima quente do que ao frio.
Desde a faculdade, engenheiros e arquitetos estudam muito mais as soluções para resfriar os ambientes do que para aquecê-los. O fato é que não existe no país uma cultura de garantir o conforto térmico das edificações também no inverno. Por isso, é comum ouvir habitantes de países europeus dizer que São Paulo é a cidade em que eles mais passaram frio na vida. É a mais fria? Sem dúvida, não. Mas nossas construções estão pouco adaptadas para os dias de inverno, ao contrário do que acontece em seus países de origem.
Para pensarmos numa construção eficiente do ponto de vista térmico devemos, em primeiro lugar, prestar atenção na possibilidade de utilizar o aquecimento passivo.
Isso nada mais é do que aproveitar a radiação solar para esquentar a nossa casa e, uma vez que o calor esteja lá dentro, tentar segurá-lo o máximo de tempo possível. Nesse sentido é importantíssimo prestarmos atenção para alguns fatores como, implantação, orientação e tamanho das aberturas, os caixilhos, proteção dos ventos e a massa térmica (o corpo) da construção.
Implantação
Quanto maior o terreno, mais fácil é implantar a casa de forma que a maior parte dos ambientes seja banhada pelo sol. Em terrenos de dimensões menores essa tarefa é mais difícil e frequentemente há os vizinhos fazendo sombra (isso é fácil ver isso em piscinas de prédios, onde, a partir de certo horário, não tem mais sol).
O mesmo acontece com as residências. Quanto menos sol bater diretamente na construção, mais difícil será aquecê-la. Tente implantar sua casa em uma posição na qual os vizinhos não façam sombra pelo menos durante uma parte do dia. Cheque a orientação do seu terreno e analise o movimento do sol, que nasce a leste e se põe a oeste.
Evite ficar muito colado na porção sul do seu vizinho: provavelmente o sol não atingirá essa fachada, causando umidade na parte de fora ou de dentro da sua parede.
Orientação e tamanho das aberturas
Ao analisar a orientação do seu terreno e o movimento do sol, veja que na maior parte do Brasil o sol vai de leste a oeste passando mais a norte. Ou seja, a fachada norte é a que recebe mais sol durante o dia, principalmente no inverno.
A fachada sul, ao contrário, recebe mais sol no verão (quando queremos deixá-lo bem longe) e quase nada de sol no inverno. É por esse motivo que não é incomum apartamentos com fachada para o sul valerem menos do que imóveis iguais, só que voltados para o norte.
Logo, oriente as aberturas de sua casa de modo que ela possa pegar sol pela manhã e pela tarde nos diferentes ambientes e evite ambientes abertos unicamente para o sul.
O tamanho destas aberturas é também muito importante: quanto maiores as janelas, mais claros e ensolarados ficarão os seus ambientes.
Caixilhos
Um fator crítico para o conforto térmico da casa são os caixilhos. Nos países em que o inverno é rigoroso, é comum encontrarmos caixilhos pesados e com vidros duplos ou triplos, cujo isolamento é perfeito.
No Brasil, a qualidade desses elementos em geral é muito baixa. As peças são mal acabadas, não fecham direito. Com isso é comum nos dias frios sentirmos que o vento está dentro da nossa casa mesmo com as janelas fechadas.
As frestas nas janelas são grandes vilãs do resfriamento de uma casa. O ar frio da noite entra rapidamente dentro dos ambientes, resfriando-os e acabando com o seu esforço de aquecer a casa durante o dia.
Ao comprar caixilhos e esquadrias, não leve apenas o preço em consideração. Observe o acabamento, o encaixe entre as peças, certifique-se de que o isolamento é adequado.
Proteção dos ventos
Da mesma forma que é um grande aliado para refrescar a sua casa no verão, o vento é um grande vilão do resfriamento no inverno. Desta forma, veja como se defender dele quando necessário.
Ao construir, verifique a orientação dos ventos predominantes e posicione corretamente as aberturas, que devem, sempre que possível, poder ser fechadas.
Uma prática bastante eficiente para manter a temperatura da sua casa agradável é ficar atento para a temperatura no interior e no exterior da sua casa. Durante o dia, é normal a temperatura externa ser maior que a interna. Assim, abra as janelas, levante as cortinas, deixe o sol e o ar quente entrar (se estiver muito frio, mas ensolarado, deixe apenas o sol entrar). A sua casa será aquecida mais rapidamente.
Após o sol se pôr, a temperatura externa diminui rapidamente. Feche, portanto, as janelas quando o sol ainda estiver se pondo e conserve o calor absorvido no interior da sua casa.
Massa térmica das vedações
Esse item é extremamente importante. Quanto maior a massa térmica de uma construção, mais isolante ela será. Para visualizar melhor, pense num contêiner ou numa barraca de camping. São construções muito leves. Um pouquinho de sol no início da manhã já é suficiente para deixar o interior desses espaços quentes como um forno.
Entretanto, poucos minutos após o cair do sol num dia frio, parece que vamos congelar dentro deles. O fato é que há pouca massa nessas construções e, portanto, elas são muito pouco isolantes. Uma construção pesada, com paredes espessas, entretanto, conservam muito mais o calor. Experimente entrar em uma igreja antiga num dia bastante quente ou num dia extremamente frio. Verá que em seu interior a temperatura é, no mínimo, agradável.
Isso acontece porque construções mais pesadas tendem a possuir uma inércia térmica maior, ou seja, demoram mais para acompanhar a flutuação de temperatura do ambiente externo. No Brasil as construções com inércia térmica média funcionam bastante bem, pois acumulam calor durante o dia e liberam à noite fazendo com que a sua casa não seja nem muito quente durante o dia, nem gelada à noite.
Lembre-se ainda da cobertura – da mesma forma que as coberturas muito leves fazem com que a casa esquente muito no verão, elas permitem o rápido resfriamento no inverno. Por isso vale pensar na cobertura como a quinta fachada a sua casa.
Uma vez pensado o aquecimento passivo (mais confortável, mais eficiente, mais econômico e sustentável, já que não gastamos nenhuma energia que não seja a do sol), podemos pensar em alguns sistemas mecânicos de aquecimento: os populares aquecedores elétricos a óleo ou a gás.
Há vários equipamentos no mercado, analise criteriosamente com os especialistas a melhor opção. Os aquecedores elétricos são de fácil instalação, já que normalmente basta ligá-los numa tomada. Esses equipamentos, entretanto, consomem muita energia e é importante que as instalações elétricas suportem a carga demandada.
Os a gás demandam uma infra-estrutura mais complexa, mas são bastante eficientes com um consumo menor de energia. Existem ainda sistemas de aquecimento de piso, equipamentos portáteis e as máquinas de ar-condicionado com opção de ar quente. Para a escolha correta é importante considerar as características de cada alternativa e também as do seu uso.
Por fim é importante considerarmos que não vivemos sempre no frio. Aliás, na maior parte do tempo, temos de lidar com o calor.
Por isso, soluções eficientes para o inverno podem ser um tiro no pé durante o verão. Grandes aberturas sem proteção para o oeste (pôr do sol) significam uma casa aquecida no inverno e insuportavelmente quente e ofuscante no verão. Uma casa em que o ar não circula pode ser agradável no inverno, mas é péssima nos dias de calor. Há ainda locais do país, como São Paulo, em que vemos num mesmo dia temperaturas acima de 25 graus ao meio dia e abaixo de 10 graus à noite.
Consulte sempre que possível um profissional da área para que a sua casa seja confortável durante todo o ano e pense em soluções flexíveis, como aberturas que podem ser fechadas e brises móveis, entre outras soluções.
Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz, arquitetos formados pela FAU-USP e sócios do escritório Forte Gimenes Marcondes Ferraz (www.fgmf.com.br)
Fonte: casaeimoveis.uol.com.br